Marly & Aristélio: amor, companheirismo e luta

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Marly fala sobre Aristélio Travassos de Andrade, a luta contra a ditadura e a presença da mulher na política e na Conape.

A diretora da Conape, Marly Gomes de Andrade, em 28/3, falou ao conape notícias sobre a história do seu saudoso esposo, Aristélio Travassos de Andrade, que lutou pela democracia, anistia política, Conape e pelos trabalhadores.

Casados há 50 anos, eles entraram para a lista dos perseguidos políticos, logo no início da Ditadura civil-militar de 1964. A união deles foi decisiva na resistência às várias dificuldades impostas pelo regime. Tiveram sua casa invadida; eles e seus familiares foram agredidos.

Falecido em 3/3/2010, Aristélio foi homenageado pela Conape, em dezembro de 2010, que nomeou o auditório, no Rio, como “Auditório  Aristélio Travassos de Andrade”.

Ao falar sobre Aristélio, Marly revela muita ternura. Ela nos deu uma síntese de sua história enquanto mulher, esposa e mãe muito presente, que criou dois filhos, trabalhava na UFRJ como nutricionista, bem como assistia Aristélio e outros familiares durante os duros “anos de chumbo”.

Disse que Aristélio sofreu por ter sido militante comunista [do PCB], sendo preso por diversas vezes, que sofreu agressões e foi torturado no Dops/RJ.

Naquele período, o casal estava no quarto ano de vida conjugal. No dia 1º de abril de 1964, eles tiveram suas vidas alteradas e sofreram perseguições.

Por sua amizade com Silas Conforto, Aristélio deu o nome de Silas para um de seus filhos. Os amigos se conheceram num ônibus da Petrobrás; ambos trabalhavam na Refinaria Duque de Caxias (Reduc). Em torno de 1958-59, Aristélio foi contratado pela Petrobrás como técnico de contabilidade.

Foi a partir desse período que Marly se interessou por política. Disse que ficava muito apreensiva no início das perseguições, com a invasão violenta à sua casa pela polícia. Eles  moravam na Rua Senador Furtado, na Tijuca. “Eles reviravam tudo, rasgaram nossos papéis, levaram livros e queriam saber os nomes dos comunistas. Como não conseguiram nada, foram embora”.

Aristélio tinha escapado diversas vezes de prisões, inclusive por uma das tubulações da Reduc. Mas, após vários dias, as forças policiais o prenderam. E mais: levaram sua mãe, seu padrasto e seu sobrinho de 14 anos de idade. A mãe de Aristélio foi humilhada pelos militares. Marly lembrou que sua sogra era uma mulher de fibra e que resistiu às pressões.

Numa das prisões de Aristélio, teve como escrivão nada mais nada menos que Cabo Anselmo, hoje escondido da sociedade em função de suas delações contra a esquerda.

Aristélio foi preso na Reduc; no batalhão da PM, na Frei Caneca e no Dops/RJ. Marly disse que, no Dops/RJ, foi possível visitar o Aristélio. Numa oportunidade, viu o escritor Mário Lago, líder de grupo de presos.

Após as prisões, Aristélio foi procurar emprego, uma vez que estava demitido da Petrobrás, desde maio de 1964. Por sua cultura e habilidade com a escrita, trabalhou por vários anos como jornalista na Editora Abril, em São Paulo.

De volta para o Rio, trabalhou no Jornal dos Sports, na Última Hora, no Correio da Manhã, O Globo, Manchete, entre outros. Teve ainda uma proeza: foi chefe de gabinete do economista Delfim Neto, no Rio.

Em suas atividades nas letras, Aristélio ajudou a escrever o livro “O Ano Vermelho” [Civilização Brasileira, 1967], com os escritores Moniz Bandeira e Clovis Melo. A obra trata da Revolução Russa e seus reflexos no Brasil.

Em uma cobertura jornalística pelo O Globo, no Copacabana Palace, Aristélio foi perseguido outra vez, e conseguiu escapar. O jornalista Roberto Marinho se solidarizou. Marly disse que Marinho propôs três opções ao Aristélio: ir trabalhar em São Paulo; ir para o exterior, ou ficar na clandestinidade, tudo custeado pelo O Globo. Mas Aristélio optou pela Revista Conhecer, em São Paulo.

Pernambucano de Timbaúba, onde nasceu em 18/3/1934, ele foi readmitido pela Petrobrás, em 1985, por conta da anistia política. Em sua nova fase, foi superintendente da Comunicação Institucional da estatal, até a década de 1990. Esse cargo foi conquistado por concurso público, sendo o 1º colocado.

Enquanto mulher, Marly tinha uma rotina agitada: trabalhava na UFRJ, criava os dois filhos, dava assistência ao Aristélio no presídio, entre outras.

Marly defendeu a presença da mulher na política. “Todos nós temos um lado político. Sem política não somos ninguém”.

Disse que é importante conscientizar outras associadas a estarem mais no dia a dia da Conape. “A Conape é composta por um grupo muito bom de pessoas, e devemos mantê-la”.

Fonte: José Moutinho/Conape Notícias nº 11 (abril/2013).

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