Damasceno: jornada iniciada com um Jeep

Damasceno e Antonia
Damasceno e Antonia

Em 1950, uma troca casual de pneu do Jeep de um engenheiro de petróleo deu início à vitoriosa jornada pessoal e profissional do maranhense João Damasceno no setor petróleo

Mestre de solda, petroleiro anistiado e sócio da Conape, João Damasceno Faria Smith nasceu em 6 de maio de 1932 na cidade de Alcântara, no Maranhão.

Em 31/5, ele contou ao conape notícias que perdeu os pais ainda criança e foi parar numa casa de família (em Sao Luís), onde trabalhou em troca de alimento e moradia.

Sua esposa, a também maranhense Antonia Viana Smith, participou da entrevista. Eles iniciaram a duradoura união em 1960, no Rio de Janeiro. Geraram nove filhos, sete mulheres e dois homens, sendo que duas filhas faleceram.

Seus olhos brilham ao falar sobre o setor petróleo brasileiro e a luta pela democratização do Brasil. Muito eles têm para contar, da trajetória de sacrifícios, enfrentaram juntos o arbítrio do regime militar e conseguiram conquistar a anistia política. Foram vigiados por soldados do Exército nas ruas próximas à casa deles, no bairro do Sampaio. Em busca do Damasceno, os militares chegaram a revistar a casa deles.

A trajetória de Damasceno começou no Maranhão, onde, por esses acasos da vida, aos 18 anos de idade, teve a oportunidade de trocar o pneu do Jeep do engenheiro Salustriano de Oliveira, do Conselho Nacional do Petróleo (CNP).

Dias depois, Damasceno teve novo encontro com o engenheiro e pediu uma oportunidade de trabalho. O engenheiro levou Damasceno para o CNP, em São Luiz. Ali começou a trajetória do soldador, depois mestre de solda. “Esse foi o dia mais importante da minha vida. O CNP foi um prêmio para mim”, disse com orgulho.

Antonia mostrou a carteira de trabalho do Damasceno, com a assinatura de “trabalhador braçal”, de 1º de Maio de 1953, data simbólica.

Em 1954, pediu demissão para ir morar no Rio de Janeiro, onde trabalhou em diversas empresas como soldador. Bem entrosado no sindicalismo, Damasceno conheceu o companheiro Miguel Rattes (já falecido), que lhe apresentou a vaga de soldador no Oleoduto Rio-Belo Horizonte (Orbel). O duto transferia 45 mil barris diários de óleo da Reduc à Regap (Refinaria Gabriel Passos), em Belo Horizonte.

O Golpe de 1964 interrompeu o trabalho de Damasceno no Orbel, em função de sua militância social, foi do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do movimento sindical. Antonia disse que ele foi preso por 20 dias pelo DOPS, como subversivo. Quando libertado teve que se apresentar no Orbel para não ser enquadrado como abandono de emprego. Foi detido novamente e levado para Fabor (Fábrica de Borracha), onde foi torturado psicologicamente por sete dias. Como sentença foi expulso do Orbel.

Anistia Política

Com o advento da Lei de Anistia, em 1979, Damasceno participa ativamente com outros petroleiros da campanha pela anistia, que resultou na criação da Conape. Ele explicou que a criação da Conape foi uma necessidade dos petroleiros em terem uma entidade com dedicação total às demandas dos anistiados. Antes, eles estavam abrigados na Astape-Caxias. “A campanha pela anistia dos petroleiros deu muito trabalho, não só para mim, mas para vários companheiros que já faleceram e outros que estão vivos. Todos se empenharam muito para criar a Conape”, disse. E citou apoios importantes na campanha, como o do ex-ministro de Minas e Energia Aureliano Chaves.

Para Damasceno, a Lei de Anistia de 1979 foi “falsa”. “Nós queríamos uma anistia ampla, geral e irrestrita. Essa situação complicava para nós, pois eles não queriam conceder a anistia”.

A campanha exigiu (e exige) muito dos anistiados, que viajavam inúmeras vezes para Brasília, São Paulo, Rio, entre outros estados onde a Petrobrás opera. A luta era para fazer valer a Lei 10.559, de 2002, que concedeu anistia política aos petroleiros perseguidos. “Ainda hoje, volta e meia recebemos notícias sobre a intenção de acabar com essa lei. Como no Congresso Nacional temos diversos parlamentares que sofreram com o regime militar, estamos conseguindo um certo apoio, mais segurança”, sublinha Damasceno.

Texto e foto: José Moutinho/Conape Notícias nº 6 (junho/2012).

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