Nilton Rego foi delegado sindical muito perseguido

Um dos fundadores do Sindipetro-Caxias, da Conape e da Astape-RJ, Nilton Rego, foi delegado sindical muito perseguido pela Ditadura, na Reduc

Nilton Rego foi tido como “elemento de absoluta confiança dos ‘vermelhos’”

Em 20 abril de 1964, um prontuário do Dops/RJ qualificou o petroleiro Nilton Rego, então motorista da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), da Petrobrás, como “agitador, aliciador, coator, delegado sindical e de absoluta confiança dos comunistas, os ‘vermelhos’; considerado comunista atuante e perigoso”. Nesses termos, Nilton foi preso até 19/5/1964.

Era o início de mais uma série de violações feitas pela Ditadura Militar até a subtração arbitrária do meio de sobrevivência de mais um cidadão brasileiro que ousou exercer o seu direito de se manifestar e de atuar numa entidade sindical dos petroleiros.

A prisão de Nilton Rego foi, simplesmente, em função dele não concordar com o regime instaurado em 1964, como acusa alguns termos do prontuário: “… figura da relação de funcionários da Petrobrás que deveriam prestar depoimentos neste Departamento”; “contribuía para o PCB com a importância de Cr$ 5”. Ou seja, o regime estava pondo em prática sua sana de perseguições aos seus opositores.

Essas e outras passagens, Nilton Rego contou ao conape notícias, em 12/2, com a participação do seu amigo Newton Menezes.

Nascido em 12/5/1928, Nilton teve sua vida alterada, com reflexos em sua família, pelo regime de exceção. Ele ingressou na Petrobrás, em 7/11/1961, para o cargo de motorista do Setor de Transportes.

Sindicalista dedicado, Nilton contribuiu na criação do Sindipetro-Caxias. Como o sindicato não dispunha de quadro funcional, ele ajudava em serviços de transporte [Kombi], em momentos excepcionais da entidade, e após o expediente da Reduc.

Como o golpe militar estava sendo gestado, Nilton teve suas atividades sindicais e laborais vigiadas. A ficha do Dops/RJ releva tal vigia, uma vez que lista uma série de atividades e ligações do sindicalista com o PCB. Foi a justificativa para as prisões e posterior demissão de Nilton da Petrobrás.

Em depoimento ao Dops, em abril de 1964, o petroleiro derrubou todas as acusações contra ele. Deixou claro, não ter utilizado o transporte da empresa para fins sindicais e nem ter conduzido (ida e volta) funcionários da Reduc ao comício do ex-presidente João Goulart, na Central do Brasil, em 13/3/1964, sem autorização. Ele disse ao Dops que a ordem de levar funcionários ao comício partiu do chefe do setor de Transporte, Yedo Brum. Nilton estava numa armadilha montada pelos golpistas.

Com o golpe, ele trabalhou normalmente até 20/4/64, quando foi conduzido por militares à Superintendência da Reduc, onde foi posto frente a um outro motorista da empresa [Milton Vasconcelos], acompanhado de um coronel do Exército, entre outros. Vasconcelos acusou Rego de ter transportado armas que seriam utilizadas na resistência à Ditadura, e que diziam estar no Sindipetro-Caxias. Nilton negou várias vezes tal acusação.

Após esse encontro difícil, Rego foi embora num ônibus da Reduc, que foi cercado por policiais civis [Dops] na estrada Rio-Petrópolis. Prederam Nilton. Não bastando, foram até a casa dele, onde fizeram a esposa e os quatro filhos ficarem sentadas num sofá enquanto reviraram a residência em busca das supostas armas. Não encontraram nada.

Nilton foi preso várias vezes, passou pelo Batalhão do Exército, na Barão de Mesquita, Tijuca, entre outros. No Dops, por dois dias, levou chutes e pontapés. Solto, retornou outras vezes para novos interrogatórios. Ficou numa prisão com outros petroleiros, por mais de um mês.

Luta pela anistia

Demitido da Petrobrás, Nilton trabalhou em diversas oportunidades, inclusive em empresa de ônibus que fazia o trecho Caxias-Mauá. Várias empresas lhe negaram emprego, em função da perseguição na Ditadura.

Com Newton Menezes, entre outros, ele participou de encontros para organizar a luta dos petroleiros perseguidos. Criaram a Astape-RJ e posteriormente a Conape. Nilton foi o primeiro presidente da Astape-RJ, depois passou a atuar na Conape.

Newton Menezes lembrou que a Astape-RJ organizou sua primeira grande festa de confraternização, em Tinguá, que contou com centenas de pessoas.

Na criação da Astape-RJ e da Conape, eles registraram a colaboração do ex-presidente do Sindipetro-Caxias, Armando Gabriel. E em questões de anistia e aposentadoria, lembraram de Nina (Leda de Rezende Campello).

Com a Lei de Anistia, o anistiado Nilton foi readmitido na Reduc, onde trabalhou até 1985, pois se aposentou. Se considera feliz com a anistia conquistada. “Estou muito feliz com a anistia, que a Conape me ajudou a conquistar. Estou no Ministério do Planejamento graças à Conape”, ressaltou Nilton Rego.

Fonte: Conape Notícias nª 12 (maio-junho/2013).

Texto e Foto José Moutinho, e no segundo plano: Refinaria Reduc – Agência Petrobrás de Notícias.

Compartilhe...