O engenheiro Roberto Coimbra fala do péssimo ambiente que viveu na Petrobrás durante a ditadura militar

Conforme citamos em Conape Notícias 19 (jul-ago/2014), na página 5, apresentamos a seguir um resumo do relato do ex-superintendente da Reduc, o engenheiro Roberto Ribeiro Coimbra (foto), um dos empregados com cargo de chefia da Petrobrás que sofreu constrangimentos com a ditadura militar.

O engenheiro Roberto Ribeiro Coimbra, profissional de alta competência, destacou ao Conape Notícias que o seu depoimento tem a finalidade de relembrar alguns eventos que ele viveu a partir do regime militar implantado em 1964, resultando no seu desligamento da Petrobrás. A exemplo do seu amigo Mozart Gutterres, demonstrou como a ditadura instalou na petroleira um clima persecutório e autoritário contra os petroleiros dos mais diversos níveis hierárquicos. Coimbra sublinhou que a Petrobrás vivia num “terrível ambiente”.

No período de 1962 a 1964, ele chefiou o Departamento de Engenharia da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), foi subchefe responsável pela organização, implantação e supervisão do Grupo de Construção do Terminal de Tramandaí e do Oleoduto Canoas-Tramandaí (Tedut), no Rio Grande do Sul, e superintendente da Reduc.

Destacou que no Tedut foi desenvolvido um trabalho, pioneiro e de bom padrão técnico.

Em abril de 1964, foi convocado pelo Assistente da Presidência da Petrobrás, General Arthur Levy, para uma reunião, na qual foi convidado para assumir a direção da obra da Refap, em função da saída do engenheiro Fernando Ribeiro, por imposição dos militares golpistas.  Coimbra recusou a proposta. Alegou que não seria uma pessoa da confiança do regime para tal tarefa.

O Marechal Adhemar de Queiroz, então presidente da Petrobrás, não se conformou com a recusa e afirmou taxativamente que a designação era uma ordem.  “Segundo ele eu era um soldado da Petrobrás, e como tal, tinha que cumprir meu dever e assumir o cargo. Sendo uma ordem tive que acata-la”. Mas Coimbra impôs uma condição: não ser envolvido em investigações relativas a atividades políticas, pois sua atuação na Superintendência seria inteiramente apolítica.

Foi o início de um calvário naquele ambiente contaminado pela ditadura. “Era uma atmosfera de intrigas, boatos, mentiras e falsidades. Indivíduos bajulavam abertamente e abjetamente os governantes”, disse Coimbra.

Esse período, segundo ele, foi o mais desagradável. “A combinação de denúncias, falsas calúnias, intrigas e atos de vingança, entre outros, tornava o ambiente insuportável.”

Mesmo assim ele conseguiu a proeza de anular um contrato lesivo à Petrobrás, para a montagem de um grande número de tanques de armazenamento de óleo cru e de derivados. “Anulei a concorrência e fui acusado de estar sabotando a revolução [golpe militar], atrasando a obra de ampliação da Reduc”.

Conseguiu uma enorme redução no preço, embora o preço unitário ainda fosse um pouco acima do preço praticado na Refap. “Mesmo assim o resultado foi uma enorme economia para a Petrobrás. Mas fiquei com a suspeita de sabotador da revolução.”

Após uma visita do então presidente da República, Marechal Castello Branco, à Reduc, Coimbra recebeu do presidente da Petrobrás, Mal. Queiroz, saudações pelo êxito da visita. Mas o clima pesado continuava o mesmo. A intenção era desestabilizar a Superintendência.

Coimbra enviou, em 29/5/64, ao então diretor da Petrobrás, Leopoldo Miguez de Mello, um relatório sobre o excelente resultado alcançado na Reduc e denunciou o ambiente de boatos contra ele [Coimbra], prevendo sua queda iminente. No mesmo relatório fez um resumo da sua atuação na chefia da Divisão de Planejamento da Obra de Construção da Reduc e na chefia do Tedut, bem como encaminhou ao diretor Leoplodo Miguez seu pedido de exoneração da Superintendência da Reduc. “Tal documento foi a maneira de expressar meu protesto e meu repúdio aos boatos e ao ambiente de intrigas alimentados por pessoas da Petrobrás estranhas a Reduc. Meu pedido não foi aceito.” Coimbra rebateu outras acusações, por documento.

Em abril de 1964, ocorreu a ocupação militar, incluindo a Reduc, a Fabor e o Orbel. Ele destacou que nesse dia, quando chegou à Reduc, ficou surpreso em ver o aparato militar. “Era uma forte pressão psicológica.” Assim, em 24/6/64, reforçou seu pedido de exoneração. O pedido não foi aceito.

Em 5/6/64 havia recebido um Memorando do Cel. Adolpho Rocca Dieguez, recém-empossado como diretor da Petrobrás. O documento acusava Coimbra de envolvimento no “esquema ideológico subversivo” assumido por diversos empregados da Petrobrás. Em 10/6/64, o engenheiro rebateu, em documento, todas as acusações.

Em agosto de 1964, após recusar-se a demitir “empregados inconvenientes” (coerente com a sua condição de não participar de atividades políticas), Coimbra foi exonerado por solicitação do Comandante do 1º Exército. Foi afastado das dependências da Petrobrás e teve que aguardar em casa o resultado de um inquérito sobre ele. Após concluído o inquérito, Coimbra pôde retornar ao cargo de superintendente da Reduc.

Disse que, durante todo o tempo da investigação, compareceu à Petrobras apenas quando convocado. E que o período após 23/4/64 foi o pior de sua vida profissional. Os boatos, as intrigas, a intervenção militar, as investigações, a politicagem de baixo nível, tornaram sua vida muito difícil.

Em 20/4/65 solicitou sua licença de um ano, sem vencimento, para tratar de interesse particular, e em 3/11/66, após expirar o período de licença, pediu demissão da Petrobrás.

Fonte: Conape Notícias nº 20 (set-out/2014)

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