Ele é cidadão brasileiro de múltiplas atividades: excelente jogador de Xadrez, artista de teatro, músico, economista, petroleiro, escritor, sindicalista, entre outras. Pode estar de terno ou vestido de Tio Sam, numa peça teatral da Campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso, nas ruas do Rio de Janeiro
Francisco Soriano: ativista incansável contra a ditadura e nas lutas sociais
O mineiro de Teófilo Otoni, Francisco Soriano de Souza Nunes, é um cidadão brasileiro incansável: anistiado político, aposentado da Petrobrás, lutador social de muitas atividades e responsabilidades; pai de quatro filhos, diretor do Sindipetro-RJ, atua na Conape, no Modecon, na Aepet, além de ativista sempre presente nos atos populares; defensor da soberania do Brasil no setor petróleo e em outras áreas estratégicas.
E não para por aí. Soriano é um enxadrista excelente, que, entre outras proezas, foi campeão do Torneio Raphael Thomaz Nunes, no Círculo de Empregados da Petrobrás (CEPE), em 1986. Um simbólico prêmio para quem acabara de ser readmitido pela estatal, em 1985, após a vitoriosa anistia política.
Em 31/7/1968, três anos após sua admissão por concurso na Petrobrás, Soriano foi demitido pela ditadura civil-militar de 1964. Ele e outros empregados dedicados, foram tratados pelo regime como “elementos”, conforme consta nas fichas e inquéritos.
A ditadura subtraiu deste cidadão o ambiente em que se sentia em família com os seus ideais. “Nós vestíamos a camisa de defesa da empresa. Nós tínhamos orgulho da Petrobrás”, declarou ao conape notícias, em setembro de 2013. Estava feliz por ter passado para um dos concursos mais concorridos do país. “Quando abriu o concurso da Petrobrás, com vagas para a Fronape (Frota Nacional de Petroleiros), consegui uma boa colocação. Fui chamado em 1965”.
Além do Sindipetro-RJ, atuou na extinta Associação dos Servidores da Petrobrás (Asserpe), na qual teve sua primeira experiência associativa e onde foi secretário-geral.
Chapa Verde
1968 – ou “o ano que não terminou”, no dizer do escritor Zuenir Ventura, e que o Soriano lembra em seu livro “A Grande Partida: Anos de Chumbo”, foi de alta-tensão, com muitas manifestações e violência por parte do Estado. Soriano estava, simultaneamente, no movimento estudantil, na Petrobrás e no Sindipetro-RJ, onde integrou a épica Chapa Verde, que nas eleições daquele ano derrotou uma chapa patronal. “Enfrentamos uma chapa apoiada pela ditadura, que tinha policiais, agentes e outras pessoas da confiança do Planalto, naquele período”.
No mesmo ano que foi assassinado o estudante Edson Luís, no restaurante do Calabouço, e ocorreu a passeata dos 100 mil, Soriano foi demitido da Petrobrás por conta de ter participado da Chapa Verde, entre outras acusações feitas pela ditadura, que constam nas fichas do Ministério das Minas e Energia.
Não se intimidava; mesmo durante o expediente da Petrobrás Soriano arrumava tempo para apoiar as manifestações contra a ditadura, sendo ferido gravemente numa delas – em 21/6/68.
Coisas da ditadura: o chefe de pessoal da Petrobrás era o famigerado coronel Darcy Siqueira. Assim, a demissão do petroleiro não demoraria muito, sendo efetivada em 31/7/1968.
Em seguida aguçaram-se as perseguições, até sua prisão, em 1969. Por mais de cem dias, foi torturado – passou por temidas prisões: Cenimar; PE da Tijuca; DOPS; foi torturado pelo capitão Guimarães, na PE da Vila Militar; passou por Ilhas das Flores e Ilha das Cobras. Resistiu em todas, sem comprometer a vida de nenhum companheiro ou familiar.
“Pela nossa anistia, a Conape fez um trabalho maravilhoso junto ao Ministério das Minas e Energia”. (Soriano)
Essas perseguições podem ser explicadas, também, num fato revelado por Soriano: dois dias após a sua demissão, o Ministério das Minas e Energia, da época, enviou para todos os órgãos de informação e de inteligência do governo militar uma ficha com informações que diziam que os petroleiros demitidos faziam parte da Chapa Verde, em oposição ao regime.
Ele destacou que sua demissão foi ilegal, pois tinha imunidade sindical, uma vez que era diretor do Sindipetro-RJ.
Ficou impedido de trabalhar em empresas privadas do setor petróleo, em qualquer tipo de tarefa.
Os demitidos enviaram informes e pedidos aos parlamentares democráticos para que fizessem uma interpelação à Petrobrás sobre os motivos da demissão. Que averiguassem junto ao Ministério das Minas e Energia, até ao SNI – Serviço Nacional de Informação – o que tinham contra os demitidos. Soriano mostrou uma ficha (secreta), usada pelo regime na demissão, com argumentos contraditórios – diziam que a demissão era para reduzir custos, mas, ao mesmo tempo, os acusavam de atividades políticas contra o governo.
Anistia
Conforme previa a Lei de Anistia (1979), em 1985 Soriano teve seu retorno para o mesmo local de trabalho quando da demissão em 1969, o antigo Serviço de Planejamento da Petrobrás, onde era auxiliar de escritório. “E no Serplan, eu fui muito bem recebido pelos antigos companheiros”, lembrou.
Ele destacou a importância da organização da Conape, que “pela nossa anistia, fez um trabalho maravilhoso junto ao Ministério das Minas e Energia. A Conape compunha uma comissão que reunia representantes do ministério, dos anistiados e da Petrobrás”.
Exaltou, também, as contribuições do ex-ministro Aureliano Chavez e do engenheiro Raymundo de Oliveira, que foi chefe de gabinete da Petrobrás, “que abriu as portas da empresa para nós”. Entre outros reconhecimentos, a Petrobrás concedeu ao Soriano a medalha de 30 anos de empresa”.
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Fonte: Conape Notícias nº 14 (set-out/2013).
Foto: Samuel Tosta/Agência Petroleira de Notícias.