Emanuel da Silva Rego fala de sua experiência no setor petróleo e da luta contra a ditadura
O primeiro presidente da Conape
O primeiro presidente da Conape, Emanuel da Silva Rego, em encontro com outro fundador da entidade, Carlos Olimpio Alves, em 12/7, falou de sua experiência no setor petróleo e da resistência à ditadura. Eles lembraram diversas histórias vividas na Petrobrás, dos amigos e colegas de trabalho, da família, dos momentos difíceis da perseguição política, da perda do emprego e da vitoriosa anistia com a campanha dirigida pela Conape.
Em 23/7/1957, Emanuel Rego foi trabalhar na Petrobrás como intérprete. Entre outras atividades que lhe renderam prestígio, atuou com um grupo de técnicos norte-americanos na Obra de Ampliação da Refinaria de Mataripe (Matamplia), na Bahia. Mataripe é oriunda da antiga Refinaria Nacional de Petróleo – a primeira refinaria do Brasil).
Antes da Petrobrás, Emanuel foi bancário. Com orgulho, ele mostrou suas carteiras profissionais e crachás da Petrobrás, em especial o de nº 75-I/3, de 3º intérprete.
Emanuel e os americanos trabalhavam na Matamplia durante o dia e de noite participavam do curso de refinação de petróleo. Profissionalizou-se em operador de processamento e foi controlador das unidades 10 e 11 (desolificação a propano).
Homem de pensamentos sólidos e de fala firme, Emanuel se define politicamente como de esquerda. Seus ideais políticos não o impediram de conviver amistosamente com a família de norte-americanos, sendo acolhido na residência deles como se fosse um filho.
“Eu chegava a dormir na varanda da casa e todo fim de semana tínhamos atividades culturais no Clube Cultural dos Jovens”, sublinhou.
Emanuel foi um ativista social. Presidiu o Sindicatos dos Petroleiros, em Salvador, militou no PCB (Partido Comunista Brasileiro), entre outras atividades. Assim, foi perseguido pelo regime militar e demitido da Petrobrás.
De 1964 a 1969, teve uma vida clandestina – sobreviveu no interior da Bahia, retornou para Salvador e foi contratado pela Cunha Guedes (da construção civil).
Em 1969 foi para o interior de São Paulo, em Ipaussu, onde trabalhou como soldador, em especial no controle de solda.
Novo elemento o obriga a fazer nova mudança. Seu nome foi divulgado num jornal de Ipaussu como perseguido político. Foi demitido e retornou para Bahia em 1970, tendo que se apresentar num quartel do Exército. Ficou preso por algumas horas, sendo solto por falta de provas. Para trabalhar, teve que pedir permissão à 6ª Região Militar, que cobre Bahia e Sergipe.
Com a Lei de Anistia (1979), foi readmitido na Petrobrás, em 1985. Mas as pressões não terminaram. Em 1990, o Governo Collor iniciou um processo de assédio para forçar a demissão de petroleiros, por acordo. Emanuel e muitos outros veteranos aceitaram o acordo e se aposentaram.
Essas e outras tantas outras histórias, Emanuel Rego nos contou na tarde de 12/7, em sua residência no aprazível bairro do Humaitá, no Rio. Foi um bate-papo descontraído que contou com as presenças de sua esposa Maria José Miranda Rego e de outro fundador da Conape, Carlos Olimpio. Todos baianos.
Nascido em 13/6/1932, em Salvador, Emanuel há 53 anos é casado com Maria José. Geraram sete filhos e perderam dois. Atualmente têm dois homens e três mulheres. Todos moram próximos.
Conheceu Maria José em Periperi, na época um subúrbio de Salvador. “Eu mexia com ela ao vê-la passar para pegar o trem”.
Dentre às várias histórias, ele lembrou da grande explosão ocorrida na unidade 13 (desparafinação a propano) de Mataripe. Por sorte, estava em São Paulo e soube da triste notícia através dos jornais. “A explosão foi cruel, perdi quatro ou cinco amigos”.
Emanuel e Olimpio recordaram diversas atividades em Mataripe e Madre de Deus (onde Olimpio trabalhava), dos chefes, dos colegas, dos projetos, dos momentos descontraídos, dos apelidos, inclusive de macetes em jogos de dominó entre amigos. Maria José acrescentava novos dados às histórias de vida que fluíram suavemente.
A importância da Conape
Em 1992, Emanuel, Olimpio e Ari Celestino Leite fundaram a Conape (Associação), sucedânea da Comissão Nacional dos Anistiados da Petrobrás.
Foi o primeiro presidente da Conape, sendo re-eleito para um segundo mandato.
Emanuel Rego definiu a importância da Conape: “Eu definiria laconicamente que a importância da Conape no processo de anistia é toda. A Conape é muito boa, correta, integrou pessoas como o meu amigo aqui [Olimpio], Celestino e outros”.
Texto e foto: José Moutinho/Conape Notícias nº 7 (jul-ago-2012).