“Defender a Petrobras e as estatais é defender o Brasil”, foi a palavra de ordem do encontro.
Realizado no auditório da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Centro do Rio, na noite desta quinta-feira (12), o encontro reuniu parlamentares, lideranças de petroleiros — Federação Única dos Petroleiros (FUP), Federação nacional dos Petroleiros (FNP), Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás) –, Clube de Engenharia, sindipetros de diversas regiões, entre outras entidades, dirigentes e ativistas sociais.
Contou ainda com as presenças de integrantes de partidos políticos, centrais sindicais, entidades da sociedade civil, jornalistas, movimento estudantil e movimentos sociais.
Os oradores foram unânimes quanto a necessidade de mobilizar os trabalhadores, e a sociedade em geral, contra a entrega do patrimônio público. Foi denunciada a privatização da Petrobras, que está sendo feita por partes, de forma escamoteada e deletério à soberania nacional. A luta engloba, também, a defesa das demais empresas estatais e do emprego neste segmento.
Foram os oradores e componentes da mesa: o presidente da ABI, Paulo Jerônimo; o vice-presidente da ABI, Cid Benjamin, que dirigiu o evento; o presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino; o geólogo e ex-diretor da Petrobras, Guilherme Estrella; o presidente da Aepet, Felipe Coutinho; a diretora do Sindipetro-RJ e FNP, Natália Russo (Nat Russo); o diretor da FUP, Deyvid Bacelar; e o senador Roberto Requião, que fez o discurso de conclusão do encontro.
O senador Requião é presidente de honra da Frente Nacional em Defesa da Soberania Nacional.
Na oportunidade, foi lançada a Frente Estadual em Defesa da Petrobras, da Soberania Nacional e do Desenvolvimento, que terá sua primeira reunião em 8 de janeiro de 2020, às 16h, na ABI. Benjamin leu o manifesto da Frente, que abaixo segue.
O petróleo é nosso!
O presidente da ABI, Paulo Jerônimo, ressaltou que há mais de 80 anos aquele auditório volta a reunir lideranças em luta pela soberania nacional e preservação do monopólio estatal do petróleo.
Disse ser “incrível” que, após 80 anos, quando da épica campanha “O petróleo é nosso!”, “estejamos aqui reunidos com as mesmas preocupações do passado”. “A verdade é que essa riqueza nacional nunca deixou de ser cobiçada pelas nações dominantes e pelos conglomerados internacionais do petróleo”, reforçou.
Jerônimo disse que o petróleo continua sendo um bem estratégico, e que “não se pode pensar em desenvolvimento sustentável, avanços sociais, e ensino de qualidade para os nossos jovens, se não soubermos proteger as nossas riquezas”.
Unidade, sem discriminação
Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia, disse que aquele ato revelou que o “espírito de frente, de unidade é indispensável para resistirmos e vencermos. Não pode haver discriminação de qualquer espécie. Eu fico particularmente satisfeito de assistir, aqui nesta mesa, duas entidades, ambas dignas (que representam os petroleiros), a FUP e a FNP, irmanadas na defesa do que é nosso”.
Lembrou, também, que “todas as centrais sindicais estão conosco. Não podemos discriminar quem quer que seja que venha se incorporar a esta campanha. Este é o recado do Clube de Engenharia.”
Sublinhou que o geólogo Guilherme Estrella é “um símbolo da retidão e da competência do corpo de funcionários da Petrobras”.
Destacou que estão destruindo a Petrobras, privatizando a empresa aos poucos, de forma que sobrarão apenas as atividades que não podem vir do exterior — segurança, transporte e alimentação. “Isso significa nos remetermos ao período colonial. Isto significa destruir a coesão social.”
A última fase
O ex-diretor da Petrobras, Guilherme Estrella, lembrado por Cid Benjamin como “pessoa fundamental na descoberta do pré-sal”, disse que o país se encontra “na última fase” de um processo iniciado em 2014, de pressão de “interesses não brasileiros que acabou por prevalecer”.
Destacou que o que vai interromper e até reverter tal situação de entrega do patrimônio público “é o povo brasileiro nas ruas”, em defesa da Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, da Embrapa, da Eletrobras, entre outras.
Três baboseiras
Deyvid Bacelar (FUP) lembrou pesquisa que deu conta de que 65% do povo brasileiro é contra a privatização de empresas estatais, dentre elas a Petrobras.
Disse que o processo de combate à corrupção no Brasil tem sido aproveitado para privatizar setores estratégico.
Destacou três “baboseiras” do presidente da Petrobras, Castello Branco.
A primeira: Castello Branco disse que os R$ 6,2 bilhões registrados no balanço da Petrobras, em 2015, quando ele [Castello Branco] era conselheiro de Administração da estatal, que aprovou as contas da empresa no referido ano, eram poucos recursos e que deveriam ser mais.
“Observem o tamanho da irresponsabilidade de alguém que é presidente da Petrobras, faz uma declaração dessa, e que coloca em risco a própria empresa perante a justiça internacional e nacional e aos seus acionistas”, avaliou Bacelar, que também foi conselheiro de Administração da estatal no citado período.
Lembrou que Castello Branco omitiu a informação de que a Petrobras faturou mais de R$ 3 trilhões no período 2004-2014. Ou seja, quase R$ 300 bilhões/ano.
A segunda: o atual presidente da Petrobras disse que a empresa está recebendo de volta recursos, no âmbito da Lava Jato, R$ 4,2 bilhões que foram subtraídos da petrolífera pelo esquema de corrupção.
“Pergunto para o senhor presidente da Petrobras: para quem foi esses R$ 4,2 bilhões? Foi para os EUA, para a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de lá, que é a SEC (Securities and Exchange Commission)? Foi para o Departamento de Justiça? E R$ 2,5 bilhões, de forma escusa e ilegal, que foi para o Ministério Público Federal (MPF), da ‘república de Curitiba’. A Petrobras não recebeu absolutamente nada”.
Terceiro ponto: “Outra baboseira que o presidente Castello Branco cita em sua entrevista coletiva [semana anterior ao dia 12 de dezembro]. Ele cita que as grandes obras do Comperj, da Refinaria Abreu e Lima, do edifício Torre Pituba (sede da Petrobras na Bahia, onde sou lotado); e as grandes obras de plataformas, sondas e navios aqui no Brasil, foram para sangrar recursos para a corrupção”.
Deyvid disse que o atual presidente da Petrobras “faz coro” com o juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, que “destruíram a engenharia nacional e a indústria naval brasileira, que estava com mais 70 mil trabalhadores/as em 2014”.
Citou, ainda, que o presidente da empresa não levou em conta que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) disse que a Petrobras precisará de novas refinarias para atender a demanda do mercado nacional.
Combate à corrupção
O presidente da Aepet, Felipe Coutinho, disse que o que está acontecendo no Brasil, em especial com a Petrobras, é que o país está inserido numa disputa internacional por recursos naturais escaços, mercados, por assalariados o mais baratos e precários possíveis. “Essa disputa se dá geopoliticamente entre as nações”.
Disse, ainda, que o combate à corrupção, no Brasil, está sendo instrumentalizado para fins geopolíticos. “É evidente que todos aqui somos a favor do combate à corrupção. O que a gente não pode permitir é a instrumentalização do combate à corrupção para que se atinja fins geopolíticos e antinacionais no nosso país”.
Natália Russo, diretora da FNP, e Sindipetro-RJ, corroborando com o presidente da Aepet, disse que o discurso de que “a Petrobras estava quebrada por conta da corrupção e criaram todo um amalgama em relação a isso. Mas nos anos de 2010 a 2014, foram os anos em que mais se investiu. Nunca uma empresa de petróleo investiu tanto como a Petrobras investiu, foram R$ 200 bilhões para descobrir o pré-sal”.
Lembrou que em 2014 diziam que a empresa estava quebrada. No entanto, com uma geração de caixa de R$ 25 bilhões/ano. “Que empresa quebrada tem uma geração de caixa dessa, e que investe R$ 200 bilhões, que descobre o pré-sal? Que empresa quebrada é essa?”
Denunciou a venda de campos de petróleo sem licitação, em desobediência ao que determina a Constituição Federal. “Hoje, um pião da Petrobras, que fiscaliza um contratado, cumpre mais regras de licitação do que o presidente da empresa para vender um campo bilionário. Essa é a realidade.”
Natália informou que estão sendo feitas ações populares contra as vendas sem licitação, e que a empresa está processando cada trabalhador que ingressou nas ações populares, entre elas lideranças da FNP/Sindipetro-RJ, como a própria oradora. A empresa está cobrando R$ 120 mil de cada um que entrou com ação popular contra ela [Petrobras].
Lembrou, ainda, que campos bilionários do pré-sal, descobertos pela Petrobras, foram vendidos à multinacional a Total (França), condenada em quatro países diferentes por corrupção — comprar políticos para conseguir adquirir campos de petróleo a preços baixos.
A venda da BR Distribuidora, citou Nat Russo, foi vendida de forma relâmpago. “Simplesmente, venderam o controle da segunda maior empresa do país ao preço do Hotel Copacabana Palace, por três anos do seu lucro”.
Reforçou que a privatização da Petrobras já está em curso. “A empresa está sendo sabotada por dentro há muito tempo. É a política de preços que prejudica o povo trabalhador, que coloca as importadoras estrangeiras em primeiro lugar, colocam as nossas refinarias produzindo menos do que poderiam produzir, para garantir que essas importadoras tenham mais lucros.” Disse que as importações, em especial dos EUA, são de 80%.
“Não se pode servir a dois senhores” (Mateus 6,24)
O senador Roberto Requião fez um levantamento histórico da geopolítica internacional e seus reflexos sobre o Brasil. Citando a passagem bíblica: “Não se pode servir a dois senhores…” (Mateus 6,24), disse que “não se pode servir ao povo e ao dinheiro”.
Disse que “a inteligência e o trabalho é que produz bem econômico”, mas “hoje, como denunciado desde o princípio pela Bíblia, tentam colocar o capital, fundamentalmente o capital financeiro, acima do homem”.
Falou que a formação da uma grande frente político-democrática em defesa da soberania nacional, da democracia, e que não “se confunda com a ampliação de espaços para o liberalismo econômico”. Ou seja, a frente pode ter liberais, mas não pode ser “penetrada, infiltrada, por interesses patrocinados pelo capital financeiro e pelos interesses norte-americanos”.
Defendeu a instituição de um referendo revogatório de todas as leis que permitiram o entreguismo do patrimônio público brasileiro.
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Texto e fotos: José Moutinho (jornalista freelancer)