Newton Menezes*
Eis um recado, segundo Lauro Jardim (O Globo, 14/8/16), de Eduardo Cunha para Michel Temer, que evidenciou toda a tramoia arquitetada para o impedimento de Dilma, as cartas marcadas: “Era uma vez cinco amigos que faziam tudo juntos, viajavam, faziam negócios… Então, um virou presidente, três viraram ministros e o último foi abandonado… E isso não vai ficar assim.”
Isto é um aviso – até no uso do verbo “virar” – revelador do conluio. Além da evidente insinuação ameaçadora à grei, demonstra a verdadeira face daquilo que realmente ocorreu para, num golpe de mestre, Temer assumir o governo. Diante deste fato são frágeis todas e quaisquer justificativas apresentadas para o afastamento de Dilma, até as razões ditas legais. E justa e verdadeira a sua defesa, apesar de não ser considerada, sua credibilidade e honestidade. Afinal, se aproveitaram da insatisfação popular para manobrar todo o processo do seu impedimento. Hoje até no Supremo Tribunal, surge atos que servem de motejo (“presidenta”) ridicularizando aquela que eles já julgam como derrotada. Seria bom que fato semelhante também ocorresse com o interino (já julgado governo) quando de sua fala esdrúxula e empolada na gramatiquice.
Na verdade ela cometeu falhas, como outros, mas que não foram o suficiente para que fosse afastada. Foi o seu autoritarismo, como o de Collor, que tornou-a indiferente ao Congresso, estes senhores, com raras exceções, que se julgam acima do povo. E tudo fazem para continuar no poder com suas ações inescrupulosas e corruptas, sempre a ludibriar os seus eleitores. Agora um absurdo: estão pretendendo cassar o registro de um partido, o PT, que apesar do populismo, provocou um avanço social. Como nos remotos tempos fizeram com o PCB. Lutar pela defesa dos mais necessitados para eles é crime.
Em tempo:
1) Ora seu Ministro (Ricardo Ramos), como o senhor dá essa de a mulher trabalhar menos, para justificar – quando a ineficiência é do seu próprio Ministério – Os homens como sendo “provedores” não cuidarem da saúde. Foi nesse mote que na Idade Media, por viverem mais, a mulher chegou a ser nominada de bruxa. Para usar o seu inoportuno gancho, na prática, ela é o provimento da humanidade. Todo o resto é conversa fiada, machismo mascarado. Melhor é reverenciá-la numa redondilha: Em respeito e gratidão/ meu questionado irmão/ no meu primeiro vagido/ da mulher fui saído/ pois não há um só vivente/ que não saia de seu ventre.
2) Cuba é um pequeno território, uma ilha, o “grande lagarto verde” de Neruda, que teve olhos para sentir o quanto foi explorada e iludida por Fulgêncio Batista. As circunstâncias fizeram de Che Guevara e Camilo Cienfuegos seus heróis. Até hoje sofre os efeitos da “guerra fria”, é marcada, pobre e incompreendida, apesar das conquistas que obteve com a revolução. Lá não existem bolsões de miséria. Conseguiu durante este período, superar os asiáticos com um elevado índice de indivíduos maiores de 100 anos de idade. Saúde e Educação, suas grandes conquistas, ali mesmo na barba dos Estados Unidos.
* Diretor da Conape.
Fonte: Conape Noticias nº 31 (jul-ago/2016)