O Presidente da Petrobrás, Pedro Parente, pediu demissão do cargo esta manhã (1º), depois de uma reunião com o Presidente Michel Temer. A sua demissão da presidência da estatal não pegou o mercado de surpresa, desde que aceitou assumir a Presidência do Conselho de Administração da BRF. A própria pressão dos petroleiros pedindo a sua saída era um sinal forte que internamente as coisas não iam bem. Já se falava que ele não se submeteria às mudanças que o governo queria fazer na política de preços da companhia, que se mostrou desastrosa e culminou numa greve que parou o país. Uma das condições que Parente exigiu ao Presidente Temer para assumir o cargo era da não interferência em sua gestão. A crise precipitou a interferência e Parente se mostrou firme em não ceder. Caiu. Independente de suas intenções e qualificações, tropeçou na própria prepotência. Foi o presidente da Petrobrás que mais criou empregos na China. Amanhã (2), ele faria dois anos à frente da companhia. Desde a implantação da política de preços, Parente vinha recebendo apoio do mercado, mas sofrendo muitas críticas de alguns outros setores. A variação diária de preços, desordenou o mercado e causou muitas confusões. A sua demissão vai se refletir muito na bolsa de valores e causar sérios prejuízos à quem comprou ações na alta. Vamos acompanhar para ver como reage o mercado.
Em uma carta de demissão que escreveu a Temer, Parente demonstra um certo ressentimento por conta dos desdobramentos da paralisação dos caminhoneiros e das interferências do Planalto no preço do diesel, mas mostra que a sua decisão deve ter sido tomada durante o feriado. “A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobrás sob intenso questionamento”.
O executivo disse que poucos conseguem enxergar que a política de preços da Petrobrás, adotada em julho do ano passado, “reflete choques que alcançaram a economia global”. Em virtude de todo este debate que se levantou em torno do tema, veio a decisão: “Está claro, Sr. Presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobrás deixou de ser positiva”, escreveu.
Leia abaixo a carta de demissão na íntegra:
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser presidente da Petrobrás, conversamos longamente sobre a minha visão de como poderia trabalhar para recuperar a empresa, que passava por graves dificuldades, sem aportes de capital do Tesouro, que na ocasião se mencionava ser indispensável e da ordem de dezenas de bilhões de reais. Vossa Excelência concordou inteiramente com a minha visão e me concedeu a autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.
Durante o período em que fui presidente da empresa, contei com o pleno apoio de seu Conselho. A trajetória da Petrobrás nesse período foi acompanhada de perto pela imprensa, pela opinião pública, e por seus investidores e acionistas. Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito além da política de preços.
Faço um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a dizer que o que prometi, foi entregue, graças ao trabalho abnegado de um time de executivos, gerentes e o apoio de uma grande parte da força de trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido apoio de seu Conselho.
A Petrobrás é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso país. E isso tudo sem qualquer aporte de capital do Tesouro Nacional, conforme nossa conversa inicial. Me parece, assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas.
A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento. Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País. Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão de subvenção ao consumidor de diesel.
Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, Sr. Presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobrás deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.
Sendo assim, por meio desta carta, apresento meu pedido de demissão do cargo de Presidente da Petrobrás, em caráter irrevogável e irretratável. Coloco-me à disposição para fazer a transição pelo período necessário para aquele que vier a me substituir.
Vossa Excelência tem sido impecável na visão de gestão profissional da Petrobrás. Permita-me, Sr. Presidente, registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que foi nesse período gerida sem qualquer interferência política — Vossa Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de Administração para a escolha do novo presidente da Petrobrás.
A poucos brasileiros foi dada a honra de presidir a Petrobrás. Tenho plena consciência disso e sou muito grato a que, por um período de dois anos, essa honra única me tenha sido conferida por Vossa Excelência.
Quero finalmente registrar o meu agradecimento ao Conselho de Administração, meus colegas da Diretoria Executiva, minha equipe de apoio direto, os demais gestores da empresa e toda força de trabalho que fazem a Petrobrás ser a grande empresa que é, orgulho de todos os brasileiros.
Respeitosamente,
Pedro Parente
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Fonte: https://petronoticias.com.br/archives/112747
Carta publicada também em http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/mudanca-na-nossa-administracao.htm
Foto: Nelson Perez / Agência Petrobras.