A anistia política de Oscar Dias Lacerda foi providencial, “coisa de Deus”, no dizer do petroleiro perseguido pelo regime militar
Oscar Dias Lacerda ingressou na Petrobrás, em 02/01/1962, como pintor. Bem conceituado, assumiu o cargo de chefe de Grupo C, da Segurança da Fabor (Fábrica de Borracha Sintética), da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc). Foi o primeiro colocado nas provas para o cargo. Foram 200 concorrentes para 40 vagas.
Em 1985, com o fim da ditadura, trabalhou na Segurança do Edifício Sede da Petrobrás (Edise). Homem de diálogo, que não transigia com qualquer pessoa envolvida em ilícitos. Tinha consciência de estar protegendo a Petrobrás.
Com a ditadura instalada, um grupo de inconformados por terem sido pegos em ilícitos resolveram acusar Lacerda de ser comunista para o interventor da ditadura na Reduc e na Fabor, o coronel Oswaldo de Souza.
No dia 13/08/1964, ele foi preso por 36 horas, numa pequena sala, sem água e comida, e sob vigia de um soldado armado. Embora não fosse filiado a partido de esquerda, foi contrário à ditadura. Lembrou que em sua ficha feita pelo regime constava a sua participação no famoso comício de João Goulart, na Central do Brasil, em 13/03/64.
O coronel Souza interrogou Lacerda e quis saber se ele era comunista. Lacerda respondeu: “Coronel, eu não sei o que sou. Mas se combater roubos na empresa é ser comunista. Então, eu sou comunista”. Assim, ficou suspenso por 40 dias e no dia 28/08/64 foi demitido da estatal.
Trabalhou na construção civil ― tinha formação técnica na área. Atuou em construções em Caxias. “Ajudei construir Caxias”.
1985 foi um ano de novidades. Além do retorno à Petrobrás, como inspetor de segurança, Lacerda militou no PSB, depois no PDT; foi nomeado pelo ex-prefeito de Caxias, Juberlan de Oliveira, Secretário de Agricultura e Abastecimento. “Abri 320 km de estradas em Duque de Caxias”.
Interrompeu sua atividade na Prefeitura de Caxias e retornou à Petrobrás. Em 1990, no Governo Collor, foi forçado a fazer acordo de aposentadoria da empresa.
Nascido em Santa Maria de Campos (RJ), em 17/9/1932, ficou muito feliz com a festa em comemoração aos seus 80 anos, que contou com 150 pessoas. É pai de 8 filhos (4 mulheres e 4 homens). A primeira filha, Maria Moura Lacerda, nasceu no dia do aniversário da mãe de Oscar, em 24 de agosto.
Lacerda sintetizou a Conape como uma trincheira dos anistiados, saudou seus serviços e contou algumas passagens sobre a importância da anistiada Nina (Leda de Rezende Campello). “Nina foi um esteio para nós”.
Cinco dias após receber sua anistia, a filha Maria Lacerda ficou muito doente do coração. Foi diagnosticada como tendo apenas 15 dias de vida, caso não fosse operada. A operação era muito cara, mas foi coberta pela anistia de Lacerda. Maria Lacerda foi salva. “Essa anistia veio para salvar minha filha. Isso é coisa de Deus”, declarou.
Texto e foto: José Moutinho/Conape Notícias nº 8 (set-out-2012)