Xerxes: “A Conape foi uma conquista de muita luta”

Dedicato à Petrobrás, militante social e pai de família, Xerxes Affonso Campos foi tido pela ditadura como uma pessoa de “alta periculosidade”

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O anistiado Xerxes Affonso Campos, em entrevista ao conape notícias, em 29/11/12, falou como ingressou na Petrobrás, em Duque de Caxias, sua militância política, a perseguição pelo Golpe Militar de 1964 e sua demissão da estatal.

Preso, ele foi acusado de “alta periculosidade” e “atividades subversivas”, conforme consta nos registros do regime.

Por sua militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e no movimento sindical, a partir de abril de 1964 Xerxes foi preso em diversos momentos.

Passou por prisões e detenções no exército e no DOPS/RJ (Departamento de Ordem Política e Social), até ser preso no presídio de Ilha Grande, por um ano.

Natural do Rio de Janeiro, Xerxes nasceu no bairro de Botafogo, em 18/1/1938, e aos 12 anos de idade foi para Caxias com seus pais. Ingressou na Petrobrás em 1958, na Refinaria Duque de Caxias (Reduc).

Para realizar o sonho de trabalhar na Petrobrás, enfrentou longas filas, fez todas as provas necessárias, aguardou cerca de dois meses e foi contratado, em 1958, como datilógrafo no Setor de Material da Reduc.

Xerxes se destacava pela boa oratória, participou da criação de uma associação de petroleiros na Reduc, que deu origem ao Sindicato dos Petroleiros de Caxias.

Nesse período conheceu diversas lideranças, entre elas Silas Conforto, Antonio Carlos Klaes Fontes e Newton Menezes.

A atividade no então recém criado Sindipetro-Caxias foi intensa. O sindicato crescia, conquistou o Décimo Terceiro Salário, férias de 30 dias corridos, pagamento de férias em dobro, anuênio, triênio, turno de 6 horas, auxílio previdência, entre outros. Mas as atividades sindicais não se limitavam a questões classistas, os trabalhadores defendiam um setor petróleo nacionalizado, contra a ingerência estrangeira.

Xerxes foi eleito delegado sindical e ingressou numa organização de base sindical do PCB. Com o golpe militar, o movimento viveu uma situação difícil. O exército ocupou a Reduc e perseguiu as lideranças de petroleiros.

Por meio de um riacho, Xerxes conseguiu escapar das tropas. Era o início de uma longa jornada de perseguições.

Num outro momento, a segurança da Petrobrás entregou aos militares os petroleiros visados pelo regime. Xerxes acabou detido juntamente com Sérgio Conforto, irmão de Silas Conforto.

Após diversas sessões de interrogatórios, ele foi demitido da estatal. A lista de petroleiros perseguidos, na Reduc, era de cerca de 50 pessoas, a maioria militava no PCB.

Xerxes teve sua casa invadida. Os militares foram agressivos e desrespeitaram os familiares do petroleiro. No momento da invasão, estava ocorrendo o casamento de uma irmã de Xerxes, bem como a esposa deste acabara de ter filho, estando em resguardo. Após mais de vinte dias preso no DOPS/RJ, na Frei Caneca, onde sofreu diversas pressões psicológicas, foi solto.

A resistência à ditadura por meio do PCB foi fundamental na vida de Xerxes, que integrava o Comitê Municipal do partido. Ele exaltou a colaboração do seu pai [Nourival Gonçalves Campos], um brasileiro progressista e comerciante em Duque de Caxias.

Num outro momento de prisão, passou a sofrer torturas psicológicas e agressões físicas – choques, levou socos, foi ameaçado de fuzilamento, entre outras. Mesmo nessa pressão, foi hábil em enganar os torturadores e evitar que outros militantes do PCB fossem presos.

Por vários dias preso e torturado, Xerxes também viu sua família sofrer – sua mulher foi humilhada e o filho do casal, Jorge Luiz, então com 4 anos, foi ameaçado de violência pelos torturadores, caso Xerxes não colaborasse. “Se você não abrir o jogo nós vamos barbarizar seu filho”, disseram. O máximo que conseguiram foi obrigarem a Xerxes se declarar comunista. Foi torturado no REI (Regimento Escola de Infantaria), na Vila Militar, em Deodoro, sofreu mais uma prisão em Frei Caneca e foi transferido para o presídio de Ilha Grande.

Nesse presídio, Xerxes se destacou por sua habilidade de diálogo. Por diversas vezes, foi um canal importante entre os presos e a direção da presídio, notadamente nos momentos mais radicalizados. Conseguiu convencer a direção do cárcere a ceder um pouco mais, deixando os prisioneiros irem para os corredores, tomar banho, assistir televisão, entre outras atividades.

Xerxes foi julgado e deixou Ilha Grande. Uma vez solto, voltou a vida normal como comerciante. Em 1985, foi reintegrado à Petrobrás, a exemplo do que ocorreu com outros petroleiros anistiados, onde trabalhou até a década de 1990. Ele destacou que os pioneiros da Conape o incentivaram a retornar à estatal.

Para ele, a Conape foi um instrumento importante para que esses petroleiros perseguidos recuperassem o espaço que haviam perdido com a ditadura. “A Conape foi uma conquista de muita luta, muita perseverança”, sublinhou.

Texto e foto: José Moutinho/Memória Conape: os petroleiros anistiados contam sua história, conape notícias nº 10 (jan-feve/2013).

Imagem em destaque editada com foto da Petrobrás, Refinaria Duque de Caxias.

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